terça-feira, novembro 24

Parte III

Mel era mesmo muito pouco apegada a coisas que ocupassem muito espaço. Excerto ele, ele podia tomar o espaço que fosse no coração dela, que era dele, que era um só, que era deles. Ela era discreta e meiga, mas bastante desligada e descuidada. O que fazia com que o mundo dela mudasse e tivesse um foco, era ele. Para ela, quase tudo girava em torno deles dois, assim como também era pra ele. Nenhum dos dois gostava de muitos holofotes.
A casa era clara, as cores neutras. O ambiente calmo, ocupado por moveis pequenos e um espaço vazio quando não havia os dois juntos em casa. O que fazia daquela casa, a casa deles, era justamente a presença deles dois. O quando estavam juntos, era o que fazia tudo ser diferente. Ele longe dela, era como caneta sem tinta. E ela longe dele, era como Saturno sem anéis. Ele a completava, e vice-versa. O que não tinha em Mel, nele continha. E o que não continha nele, em Mel havia de sobra. Foram mesmo feitos um pro outro, como se Deus os tivesse unido para que nada mais no mundo pudesse separar. O que Deus uniu, o homem não separa. Era mesmo assim, mesmo que não fosse oficial, mesmo que o estado civil de 'casado' não fosse declarado. Nenhum dos dois apreciava rótulos, por isso, preferiam sempre dizer que estavam juntos, não importava o que o 'estado civil' apresentassem. Estavam juntos, eram juntos, sempre UM SÓ.
Havia entre os dois, além de tudo, uma cumplicidade. Um era sempre pelo outro, não importasse a preocupação. Se Mel estivesse enfrentando um problema, o problema era dele também. Assim como o contrário. Mel não podia estar triste, sem que ele não estivesse. Mel não podia estar feliz, sem ele estar feliz. Tudo ocorria em perfeita sintonia.
Quando ela se levantava, todos os dias mais cedo que ele e começava a se arrumar para sair pelas ruas agitadas da cidade com um destino chamado trabalho, ficava pensando qual seria a nova forma de acordá-lo e qual seria a reação dele. E todas as vezes, ele reagia da mesma forma. Um sorriso que demonstrava uma calma de tanta felicidade, e, não importava se ela estava de salto ou não, a puxava novamente para cama, pro lado dele e a enchia de beijos. Essa era a parte preferida da manhã dela, e da dele também.
Depois de todos os beijos, ela tinha que partir. E essa era a pior parte da manhã. Mas Mel ia, com ele ainda dormindo, na maior parte das vezes. Deixava, todos os dias, um Post-it colado no despertador, cada dia uma cor diferente, um escrito diferente, com a mesma letra linda e rápida de sempre. Quando ele acordou hoje, com o som do despertador histérico ao seu lado e sem a Mel do outro, abriu os olhos e leu o que continha no Post-it cor-de-rosa. Lá dizia:
Não importa se estou ocupada ou não, perto ou não, o nosso coração continua a bater junto,
numa mesma sintonia.
Te encontro no almoço, amo você.
Sua Mel
Tays Esquivel.

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